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A OMC, o Brasil e seus erros

Ano passado publicamos neste mesmo espaço um artigo em que criticamos severamente o País de ter lutado com unhas e dentes pelo cargo de diretor geral da Organização Mundial do Comércio. Em especial pelas armas utilizadas, com intervenção forte da Presidência e do Itamaraty e convencimento para apoio maciço, segundo se soube, de países da África e do Caribe, todos sem representatividade no comércio exterior.

Isso deveria ser uma questão de comércio e não de política. Tínhamos acabado de politizar a geografia comercial mundial, como é próprio do País nos últimos anos. Dividimos o mundo, sem necessidade, em hemisfério norte e hemisfério sul, abrindo uma frente de discordância que não levaria a nada. A direção da OMC deveria ser um desejo dos players do setor, e não de governos.

Falamos também da luta desesperada por uma compensação pela falta da cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU – Organização das Nações Unidas, que nem Alemanha e Japão têm. Sonhos de uma noite de verão…Portanto, dissemos, luta em hora errada. Em que não se lutava igualmente para a melhoria do País, de modo a apresentar algo para poder pleitear algo – fosse tanto a diretoria geral da OMC quanto a cadeira no Conselho de Segurança da ONU.

Era uma questão de puro bom senso. Qualquer um poderia concluir o mesmo que nós, mas nos tempos atuais, nada mais se vê neste País.

Dissemos que o Brasil não era exemplo de economia aberta para ditar regras internacionais. A OMC luta por comércio livre, aberto, simples. Somos uma economia extremamente fechada, que não condiz com o que poderíamos ser. Um país com percentuais bem maiores em território, população e economia do que os meros ínfimos 1,2% do comércio mundial.

Nosso comércio mundial, relativamente a nosso PIB – produto interno bruto, é de cerca de 20%, enquanto o internacional representa 50% do PIB mundial. E isso com nosso comércio exterior em queda em 2014, depois de já ter caído em 2013 em relação a 2012. E a tendência é piorar, com a queda dos preços das commodities. O preço a pagar por termos invertido, em 2009, uma situação que tínhamos deixado em 1975, a de sermos um exportador primordial de commodities, passando a ser mais de industrializados.

Voltemos às commodities, que representam hoje 60% das exportações brasileiras. Ninguém se desenvolve e ganha peso no comércio mundial só com commodities. Somos cada vez mais protecionistas.

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Não fazemos acordos comerciais; estamos na rabeira mundial nesse sentido. Considerando nosso tamanho, PIB, população etc somos o país com menos acordos no mundo. E com a pior logística da Via Láctea e custos logísticos exorbitantes, não dá para ser otimista.

O diretor geral parece ter acabado de jogar a toalha, corroborando tudo aquilo que dissemos na ocasião e citado acima. Quem viu os jornais de 17 último percebeu a tristeza da situação. A Rodada Doha, iniciada em 2001, grande esperança do diretor geral, parece ter naufragado. Estamos terminando 2014 e não há luz no fim do túnel.

Se, nesse momento, alguma luz for vista é, sem dúvida, um trem em sentido contrário, levando tudo que vê pela frente. O que o governo está fazendo agora para salvar a pele do diretor geral? Absolutamente nada. Ele está sozinho tentando se equilibrar na mais fina corda que já se deu a alguém para travessia pelo alto e em que a queda só pode ser fatal.

Ao contrário, o que vemos é o governo tornando cada vez mais difíceis as condições do comércio exterior brasileiro e, por consequência, as condições do seu representante no exterior, em tão importante organização. Como já dissemos anteriormente, a OMC está perdendo cada vez mais sua importância. Sua capacidade de unir os países na liberação do comércio é cada vez menor. E estes, diante da quase nenhuma importância do órgão, dispararam a realizar acordos bilaterais ou multilaterais. Tudo longe da OMC. Já há mais de 300 acordos desse âmbito feitos no mundo, no qual a importância da OMC é seu registro como acordo válido. É um campo em que o nosso país passa longe, cada vez mais voltado às relações com aqueles que somente podem prejudicá-lo, como Venezuela, Argentina, Cuba e outros do gênero. Enquanto vamos caminhando de charrete, os demais países estão voando.

Assim que o acordo entre os estados Unidos e a União Europeia for assinado, será colocado o último prego no caixão do nosso comércio exterior. Pena Brasil, pena. Um país com as maiores potencialidades do mundo e sempre rastejando, sem condições de se levantar.

Samir Keedi

Professor de MBA, autor de vários livros em comércio exterior, transporte e logística, tradutor do Incoterms 2000,membro da CCI-Paris na revisão do Incoterms® 2010.

Analista de Importação Profissional

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