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Corredor bioceânico: Saída do Brasil pelo Pacífico?

No começo da década de 2000 o país ficou se ocupando em exercitar a sua capacidade de saída pelo mar, mas pelo lado oposto, diversa do Oceano Atlântico. Utilizando a sua fronteira terrestre para alcançar o Oceano Pacífico. Muitos seminários e reuniões foram realizados para discutir tal ideia, e participamos de muitos deles. Nunca achamos a ideia boa, ao contrário. Mas, com o tempo, o assunto morreu. Nunca mais se falou nisso. Ainda bem.

Agora, para nossa surpresa, o governo fala sobre a ideia de uma ferrovia ligando o Rio de Janeiro ao Peru, em conjunto com o Peru e a China. Com custo de R$ 30 bilhões. Ideia pior ainda que a do passado. O país degringolou, deixou de crescer, está em recessão, e o governo megalomaníaco levanta o assunto. O momento é de economia, de corte de gastos. E, pior, o governo nem sequer sabe o que está falando. Não conhece custos de transporte, não sabe o que é comércio exterior, e fala nisso.

E, como se sabe, se o custo estimado é de R$ 30 bilhões, pode-se já projetar um orçamento entre R$ 60-90 bilhões. E, provavelmente, sem os “Rachids” (sic) da vida, que ninguém é de ferro nesse governo. É mais um daqueles projetos para impressionar, mostrar que se está fazendo algo. Que sabemos que nunca sairá do papel. Se sair, jamais será terminado. Se terminado, será mais uma inutilidade desse governo.

Por que não se preocupam em reduzir a carga tributária para crescer? Em reduzir a taxa de juros ao nível mundial, ou algo aceitável para possibilitar investimento? Em reduzir a gatunagem com os recursos públicos? Construir hospitais e dar leitos ao povo? Dar empregos ao invés de bolsa-esmola para efeitos de eleições?

Trabalham com a ideia de que haverá um grande ganho com isso. A começar por uma extraordinária redução do custo logístico pela redução da distância marítima até os destinos asiáticos. O que ajudaria a reduzir o custo Brasil, pelo menos através da perna da logística. O que não se tem conseguido fazer através das demais pernas do custo Brasil, quais sejam, o juros, a carga tributária e outros.

Mas, da maneira como funciona este país há mais de 500 anos, e como tem sido o funcionamento neste milênio até agora, sabemos qual será o ganho e de que maneira isso ocorrerá. Aliás, todo o nosso grande acampamento sabe disso.

É uma ideia equivocada a intenção de criar, juntamente com o Peru, seu vizinho de fronteira, um corredor bioceânico ligando o Atlântico ao Pacífico. Se desejarmos melhorar nossos custos e competitividade, direcionar a saída das exportações, e se for o caso a entrada das importações, pelo Oceano Pacífico não é a melhor ideia.

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Hoje se fala em corredor ferroviário (no passado falava-se em ferroviário e rodoviário, com utilização conjunta, dependendo da logística escolhida).

Segundo os experts no assunto, no passado, e parece que temos hoje a mesma ideia, nossos produtos alcançariam o extremo oriente, em especial os grandes compradores, a China e Japão, percorrendo menos milhas marítimas. Em face de que a ligação entre os portos brasileiros e de nossos parceiros seria mais curta pelo Pacífico.

Em se tratando de mercadorias enviadas à costa oeste norte-americana poder-se-ia, inclusive, eliminar a passagem pelo canal do Panamá se isto tiver que acontecer.

Até que ponto isto pode ser verdade ainda está por ser verificado, e ainda não passa de especulação. São exercícios de teoria, visto que se ainda não existe nada se pode afirmar sobre ele.

Mas, a priori, devem-se colocar os seguintes grãos de areia no caminho. Esperando que não se transformem em grandes pedras.

É preciso verificar quanto custará, e se o investimento no corredor se pagará. Ele deve ligar diversos pontos do Brasil a algum porto no Pacífico e não ser parcial, que de nada valeria. É preciso lembrar que o gasto não é apenas na construção da ferrovia. Que esta deverá ser constantemente reparada em face do desgaste natural do uso. Bem como locomotivas e vagões.

E, também, há o grande entrave de que o transporte marítimo é mais barato do que o de qualquer outro modo de transporte, exceto o fluvial que é o mais barato de todos.

Assim, além do já colocado, é necessário pensar qual será a economia com o frete marítimo via Pacífico e qual será o gasto com o transporte ferroviário até lá. E o tempo que se gastará nisso, colocando em cheque os custos de estoque de mercadoria com um transit time mais elevado da ferrovia. A troca do transporte marítimo pela ferrovia é, de longe, péssimo negócio. A ferrovia é mais vantajosa que a rodovia e não o transporte marítimo.

Só seria útil para alguns pontos do território nacional, mais perto do Pacífico, em que se trocaria a rodovia brasileira pela ferrovia até lá.

Enfim, como se verifica, essa nova saída pode não ser uma questão tão “pacífica”.

Samir Keedi

Professor de MBA, autor de vários livros em comércio exterior, transporte e logística, tradutor do Incoterms 2000,membro da CCI-Paris na revisão do Incoterms® 2010.

Analista de Importação Profissional

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